Tenho de admitir que sou muito inexperiente. Claro está que falo em horas de voo. Nas restantes matérias sou já um macaco velho. Esta ida a Tenerife foi a minha segunda viagem de avião mas devo-a considerar a primeira.
É que a única vez que eu tinha andado num bicho daqueles foi há nove anos, para Ibiza e em lua-de-mel. Como devem imaginar, sendo uma viagem de núpcias eu não queria saber da porra do avião para nada. Eu só estava interessado em ver o tecto do quarto do hotel. Pronto, antes que comecem as bocas foleiras das leitoras deste blogue tenho que rectificar e dizer que também queria ver as paredes e todos os pormenores dos azulejos da casa de banho do dito quarto do hotel.
Foi pois com muito espanto que constatei que as filas para o
check-in para Tenerife começaram a formar-se com quase quatro horas de antecedência quando os balcões só abrem duas horas antes. Claro está que eu, como não percebo nada do assunto também me enfiei na bicha!
Ao princípio pensei que fosse por toda a gente querer lugares à janela, mas depois comecei a constatar que não era esse o motivo. Pensei então que fosse a pressa por ir de férias. Eu também estava em pulgas e o nervoso miudinho começava a manifestar-se pedindo um aumento dos índices de nicotina no sangue.
O problema é que a vida está difícil para os fumadores. Não só pelo preço do tabaco mas porque cada vez é mais difícil um gajo arranjar um local onde possa fumar. No aeroporto de Lisboa, por exemplo, só num local muito refundido e atafulhado de beatas se pode dar azo à viceira. Irra que país mais atrasado. Assim como é que o estado pode meter a mão aos impostos sobre o tabaco. É que um gajo fica logo sem vontade para fumar.
Voltemos às bichas. Depois do
check-in feito foi ver o tuga a correr para a porta de acesso do avião. Ainda o avião lá não estava e já a fila era enorme junto à manga de acesso. Claro que com tanta pressa foi dispensado o aviso de última chamada para o embarque. Meia hora antes do previsto já estávamos todos de cintos postos.
Quando o avião decide começar a andar começa o chavascal. Gritos, palmas, guinchos e se não me engano até ouvi um "
olé!". Quanto o bicho levanta o nariz e começa a descolar a algazarra foi tanta que por pouco não perfurei um tímpano.
Ainda o aviso para tirar os cintos não tinha acendido e no corredor do avião começava o corrupio de vai e vem para o WC. Só ai eu percebi o porquê de tanta pressa para entrar no avião. É que uma das características do português é a de levar souvenires de todos os lados por onde passa, de preferência se forem de borla. Quando eu me apercebi já fui tarde. Todo o material existente no WC do avião já tinha sido refundido. Já nem papel higiénico havia.
Como não me safei no avião vinguei-me no hotel e de lá trouxe souvenires para a família toda. Toalhas de banho com o logótipo do hotel para os meus pais, sabonetes e champôs para a minha querida irmã, uma calçadeira e um pente para a minha avó e cá para casa ainda consegui trazer uma palmeira da piscina. Dei cabo da mala, mas consegui lá enfia-la.
O resto da viagem decorreu praticamente com tranquilidade. Digo praticamente porque com a azáfama de correria para a casa de banho a maior parte dos passageiros não repararam que nas televisões do avião passava o precário de tudo o que se podia consumir no dito cujo. Claro que o sossego acabou quando a aeromoça amiga do Scolari começou a distribuir snacks.
- "
quieres algo ?"- "
Quero uma sandes de coirato e uma mini, ó boazona!", ouvi eu duas filas à frente da minha. A hospedeira, já com muitos anos de experiência de voo com tugas deixou o murcão morder a sandes e dar um beijo na mini para de seguida tornar a ablar.
- "
8 euros por favior!".- "
Fodassssssssssse!!!!!!!! Esta merda é tudo a pagar, os coños dos gajos não dão nada a ninguém!!!!!!". Se havia dúvidas sobre representantes do norte de Portugal neste voo tinham acabado de ficar esclarecidas.
O voo deve ter sido tão intragável para a tripulação do avião que demorou menos quinze minutos do que o previsto. Pior que isso foi que o piloto com a pressa fez uma aterragem tão a pique que por pouco não me rebentavam os tímpanos pela descompressão provocada pela altitude. Ainda assim fiquei com uma dor de ouvidos para o resto do dia.
A pressa de ver Tenerife e as suas famosas baratas gigantes era tanta que ainda o avião estava a andar e já a fila para sair do avião começava a formar-se. Daqui até ao hotel foi sempre em passo de corrida. Eu até percebo porquê. Isto de o primeiro dia de férias ser passado em autocarros e aviões é desgastante e o pior é que o primeiro dia estava quase a acabar e ainda não se tinha gozado nada.... nesse dia cada minuto contava.
Comparado com isto tudo o regresso foi uma calmaria. Ninguém queria entrar para o avião. O voo saiu atrasado porque tiveram que chamar por três vezes já que ninguém se dignava a entrar. Andava tudo nas lojas
tax-free a precaver-se. Na volta ninguém pediu nada para comer ou beber pois já ia tudo prevenido com sandes, chocolates e líquidos.
No regresso as pessoas eram as mesmas, mas o ambiente bem diferente. Os bronzeados à trolha tinham desaparecido, o índice de óculos de sol de marcas caríssimas tinha aumentado exponencialmente, o que indica que os Mantorras de Tenerife facturaram bem a vender na rua e as máquinas fotográficas digitais eram passeadas pela trela, o que de certeza deixou os monhés Tenerifenhos mais satisfeitos.
O único senão do regresso foi o cheiro. Não sei se estão bem a ver, quase 200 tugas, expulsos do hotel antes do meio-dia e que passaram cerca de 5 horas a fazer tempo para o avião debaixo de um calor abrasador de 35º. Pelo cheiro aquilo mais parecia um voo de transporte de gado.
Acho que foi por isso que a aterragem em Lisboa teve direito a palmas por parte dos passageiros..... hummmmm...... o quê????? Não foi por isso????? Então não percebo por que é que foi.
Será que não perceberam que estavam de novo em Portugal??????
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