Hoje acordei bem disposto. Mesmo muito bem disposto. A noite de ontem correu de feição. O Urbano não apareceu e eu voltei a ser o rei do espaço, ainda para mais ontem que estava cravejadinho de enfermeiras. Benditos congressos.
Voltemos ao dia de hoje. Acordei tão bem disposto que virei-me para a restante famelga e disse "
hoje vamos fazer um programa diferente. Vamos almoçar fora e depois vamos fazer um programa cultural. Hoje vamos banir a rota dos supermercados". Pus os meus óculos de massa sem lentes que me dão um ar mais intelectual e saímos de casa.
Foi assim que depois de almoço fomos até ao CAE. Começamos pelo cafezinho para despertar os neurónios para as novas emoções que lhes iam ser apresentadas e depois apanhamos o elevador e rumamos ao primeiro andar onde está a exposição
O Desenhador Compulsivo de Abel Salazar.
Já andava à algum tempo com curiosidade para ir ver esta exposição. Abel Salazar surge-nos como um verdadeiro desenhador compulsivo, rabiscando num qualquer pedaço de papel.
À saída do elevador admirei-me com a aparente calma circundante, só interrompida pelo barulho do aspirador da senhora da limpeza que olhava para nós com ar incrédulo.
Cheguei a pensar que a exposição estaria fechada mas ao aproximar-me da porta reparei que não. Afinal estava aberta. Entramos. Consegui ver os três primeiros quadros, desenhados em toalhas de papel de uma qualquer tasca, até que nisto sou interrompido pelo segurança que me veio elucidar do porque de tão fraca afluência de público.
Segurança: Boa tarde.
Cu: Boa tarde.
Segurança: Os senhores têm bilhetes para a exposição?
Cu:!!!!!!!!!! Bilhetes?????? É preciso pagar para ver a exposição????? Quanto é cada bilhete?
Segurança: três euros os adultos e um euro e meio para a criança.
Está bem abelha! Sete euros e meio para ver desenhos em pedaços de toalhas de papel?
Voltamos ao rés-do-chão. Seguiu-se a exposição de pintura do Jovem André Pontes. No geral gostei bastante. 90% dos seus quadros chamam-se "sem título", o que além de demonstrar alguma falta de imaginação é mau para o negócio. Não há nada como dar um título condigno a um quadro abstracto. Torna a coisa mais intelectual.
Por fim fui ver a exposição de fotografia. É um colectivo de fotojornalismo. Alguns dos autores são figuras da nossa praça. Estava a gostar bastante mas não consegui ver tudo até ao fim. De repente dou de caras com uma fotografia do nosso presidente, Aníbal Cavaco Silva com uma boina alentejana e um sorriso esgazeado. Não me contive. Deu-me um ataque de riso tão grande que as minhas gargalhadas ecoaram por todo o edifício. Devem ter sido tão sonoras que acordaram o fantasma do Santana Lopes que imediatamente ordenou ao segurança que me pusesse na rua.
Fiquei danado mas não derrotado e decidi finalmente ir a um local que já há vários meses ando para ir. Fui ao
Tubo de Ensaio. Bom....... eu por amor à causa e às pessoas que estão à frente do projecto não quero aqui dizer mal, mas parece-me a mim que é uma causa perdida. Eu pessoalmente fiquei algo desiludido, principalmente com o espaço. Gostava mais daquilo quando era o Templo das testemunhas de Jeová. Garantidamente tinha mais crentes do que tem agora, embora estes que lá estão agora fumem umas coisas mais engraçadas.
No fim desta experiência cultural mal sucedida virei-me para a minha querida mulher e disse-lhe "
isto não correu lá muito bem. E se agora fossemos ver animais em cativeiro?", ao que ela me respondeu "
estás maluco? Não me digas que queres ir agora para Lisboa para o Jardim Zoológico?". Eu ri-me e disse-lhe "
não te preocupes. Confia em mim".
E foi assim que acabamos o dia .................................. na matiné da Danceteria Paraíso.