Terça-feira, 7 de Agosto de 2007

RECORDAR É VIVER - PARTE 2

Este foi o quarto texto a ser escrito neste blogue e teve como principal inspiração o meu local preferido de meditação: As urgências de um hospital!

O QUE É PRECISO É SAUDE

OLHO

Antes de mais, quero alertar-vos que na história que vos vou contar ninguém se chama Fonseca, como tal, ao contrário do que possam pensar, este relato ainda não faz parte de nenhum sketch do Gato Fedorento, pelo menos para já. Tudo o que eu vos vou contar, por incrível que pareça, não é fruto da minha imaginação, é real e foi visto por estes olhos que a terra irá comer e ouvido por estas orelhas que a Angelina Jolie sonha lamber.

Por volta de Outubro de 2004, a minha querida esposa começou a ter algumas dificuldades oftalmológicas, ou seja, tinha dificuldade "em focar ao longe". Está entre aspas porque são palavras dela. Ao início não era todos os dias, mas a coisa foi-se agravando e em Janeiro de 2005 tivemos que tomar uma opção.

Ou comprava-mos uma bengala e um cão guia ou íamos ao médico. Embora o médico no imediato ficasse mais caro, pois uma consulta no privado custava mais que o cão e a bengala, e olhem que o cão já vinha com as vacinas e tudo, a longo prazo o cão, devido à alimentação, ficava mais caro e o médico tinha a vantagem de não ser preciso leva-lo a passear.

Vou abrir aqui um pequeno parêntesis na essência da história, uma vez que falei em consultas no privado. Eu cá fico deveres chateado quando tenho uma consulta no privado, pago uma pipa de massa, faço a marcação para um dia em que eu seja o primeiro paciente, para não perder muito tempo à espera, e depois estou mais de uma hora à seca porque o médico ainda não chegou. No mínimo, o que eu esperava dele era que as suas primeiras palavras fossem "desculpe lá o atraso mas aconteceu-me um imprevisto". Mas isto sou eu a falar, que sou do contra. Se calhar nem tenho razão nenhuma, sei lá.

Voltando então à estória propriamente dita. Lá fomos nós então em Janeiro ao Dr. Oftalmologista. De entre 3 diagnósticos possíveis, o mais simples era as lentes desajustadas. Efectivamente, as lentes já estavam fora de moda, foram trocadas e com votos de estimas melhoras lá nos mandou embora com um aviso de que se a coisa não melhorasse no espaço de 15 dias que devia votar ao seu consultório.

Passados 15 dias o problema persistia, mas como na empresa onde eu trabalho, os seguros médicos ainda não são para toda a gente, tivemos que esperar por início de Fevereiro para ir visitar novamente o doutor. Nesta consulta, já denotamos alguma preocupação no médico, já que depois de alguns exames à retina não encontra uma explicação para o assunto. É então que faz por justificar o dinheiro da consulta e liga para o hospital dos Covões para falar com um colega Neurocirurgião. No fim da conversa diz-nos "amanhã (sábado) depois de almoço dirigem-se ás urgências dos Covões" (mas que é que escolheu este nome para o hospital. A mim parece-me um pouco mórbido. Covões....Coveiro...+ hospital = morte) com uma carta por ele escrita, marcássemos uma consulta para o Dr. Não Sei Quantos que ele nos encaminharia para o que fosse preciso.

Assim foi, Sábado partimos para a Cova, desculpem, Covões, já mentalizados para ter uma tarde bem passada.... chegados ás urgências e feita a inscrição, mandaram-nos sentar numa sala de espera mesmo ali ao pé do guiché das inscrições. Até aqui tudo normal. Eu já estava mentalizado para secar mais de uma hora, já que aquele sítio chamava-se urgências e o nosso caso não era urgente. Mas enfim, a sala até era agradável. No entanto para minha surpresa somos chamados em menos de 5 minutos. Um senhor de bata verde hospital (já tinha ouvido falar desta cor, verde hospital, mas só agora percebi como era) diz-nos "sigam por este corredor e aguardem na sala ao fundo".

Foi com um sorriso nos lábios que atravessamos aquela sala a pensar que afinal até nos íamos despachar, que o Dr. Oftalmologista devia ter posto uma cunha ou coisa parecida. Afinal, para nosso espanto, quando entramos na sala seguinte, não era um consultório mas sim a verdadeira sala de urgências. As macas com acamados ultrapassam por onde podiam, estacionavam em segunda ou terceira fila, enfim, o caos.

Ultrapassado o choque, lá nos sentamos numa cadeira que por ali andava perdida e esperamos....esperamos... esperamos. Só então eu me apercebi de que éramos os únicos que por ali andavam em que não nos tinha sido implantado um frasco de soro. Cheguei à conclusão que tínhamos tido uma sorte do caraças pois quando passamos pela porta, o gajo que faz os ditos implantes deve ter ido fazer uma mijinha. Só assim se justificava que fôssemos os únicos a não o ter. Cheguei a sentir-me excluído. Aquilo parecia aqueles carimbos que nos põem nas discotecas da moda e que permite que nós entremos e saiamos as vezes que quisermos e se não tomarmos banho, talvez se consiga entrar no dia seguinte....

Ao contrário do que possam pensar, aquela tarde não custou nada a passar. Parecia que estava a ver os novos episódios do Gato Fedorento.

Sketch 1: Um dos pacientes está a dormir numa maca desde que nós chegamos. Não se mexe e não se sente a sua respiração. Os médicos passam de um lado para o outro mas não ligam patavina a ninguém. A uma certa altura virei-me para a minha querida esposa e disse-lhe em jeito de brincadeira "aquele já bateu a bota". Passado um pouco lá apareceu um médico. Pelo aspecto ela acabadinho de formar. Ainda vinha quente. Dr. Novinho Em Folha. Vai junto da maca, lê um papel que está pendurado aos pés, e começa "ó Sr.. Joaquim, vamos lá a acordar ... Ó Sr. Joaquim....Sr. Joaquim..." agora, o chamamento pelo Sr. Joaquim já eram acompanhados de palmadas nas pernas.

Deve ter sido o primeiro susto do jovem médico, pois tira aqueles auscultadores metálicos que os médicos gostam de usar à volta do pescoço para os aconchegar e começa a auscultar o Joaquim. Sai logo de seguida com uma cara mais aliviada para voltar de seguida com o outro da bata verde hospital. Nisto diz o bata verde, já a rir-se, para o bata branca "o que é que quer, está prostrado"

Sketch 2: Duas macas ao lado do Sr. Joaquim estava a Sra. Ermelinda. Tirando o implante de soro, ninguém diria que ela estava doente, tinha bom aspecto para a idade. Nisto entra o Dr. Novinho Em Folha que lhe pergunta "então dona Ermelinda, de que se queixa". A dona Ermelinda lá lhe sussurrou ao ouvido do que padecia e nisto o jovem doutor pergunta num tom de voz que é audível em todo o hospital " então e à quantos dias é que já não obra?" a dona Ermelinda torna a sussurrar-lhe ao ouvido. "à dez dias???? E já experimentou meter alguma coisinha no rabo?". Neste instante, enquanto o médico sai da sala, todos os outros doentes estão com melhor cara, excepto a dona Ermelinda que está vermelha que nem um tomate.

Cinco minutos depois o Dr. Novinho Em Folha volta ao ataque. "então e ouça lá, gases, tem???". Neste momento já só consegui ver a dona Ermelinda a enterrar-se pelo chão enquanto respondia ao médico.

Ao fim de um par de horas acabaram-se os sketch e nós fomos chamados para uma 3º sala de espera. Esta já era a sala de espera do departamento de oftalmologia. Enquanto esperávamos esforçava-me por fazer orelhas de marcador a um gajo que insistia em contar-me como é que tinha ficado com o olho do triplo do tamanho.

Já me estava a passar com o monólogo de que estava a martelar uma tacha e que a tacha lhe saltou para o olho quando nisto passa um médico com um andar que parecia que saltava de nenúfar em nenúfar ao mesmo tempo que espalhavam perfume Hugo Boss por todo o Hospital... olho para a minha querida mulher e com aquela capacidade que nós temos de comunicar sem falarmos dizemos ao mesmo tempo "bicha".

Quando olho para o lado está o trolha com um sorriso idiota e com o seu único olho bom vê o médico entrar num gabinete. Consigo ver o pensamento do trolha num enorme balão por cima da sua cabeça "paneleiro". O Sr. Trolha é chamado logo de seguida. Quando sai pouco depois consigo ouvi-lo dizer enquanto desce as escadas "grande paneleiro!".

Somos então chamados para sermos atendidos pelo Dr. Bicha que não é mais nem menos do que o medido ao qual nós nos tínhamos de dirigir, o Dr. Não Sei Quantos. Diz-nos que não nos vai fazer nada pois já leu a carta do seu colega o Dr. Oftalmologia e encaminha-nos para um neurologista. Depois da minha querida esposa se queixar ao neurologista ele começa a fazer-lhe uns testes complicadíssimos. " Siga o meu dedo com os olhos .... está a ver bem? Agora feche os olhos e ponha a língua de fora. Agora toque com o dedo na ponta do nariz."

Eu estava perplexo a olhar para tudo aquilo. Podem não acreditar mas eram mesmo estes os exames que lhe estavam a ser feitos. Por fim o Dr. Neurologista diz "tem que se fazer mais exames mas não pode ser nas urgências, vou-lhe marcar uma consulta hospitalar para um colega meu. Demora mais ou menos um mês e meio a ter consulta". Foi assim que saímos derrotados daquele hospital.

Praticamente dois meses depois, lá recebemos a carta com a dita consulta 28 de Março. No dia 24 de Março, praticamente na véspera, recebo um telefonema do hospital a dizer que o Dr. Neurologista Segundo não pode dar consulta no dia 28, pela qual esta fica adiada para 9 de Maio.

No dia 9 de Maio, lá comparecemos nós. A sala de espera das consultas externas dos Covões abarrotava pelas costuras. A sala está a cair de podre, mas espantem-se bem, tem numa das paredes um plasma Philips de última geração. Quando fomos atendidos, o Dr. Neurologista Segundo nem sequer sabia como é que ali tínhamos ido parar, pois não existia processo nenhum. Voltamos para a sala de espera enquanto uma enfermeira armada em Hercule Poirot procurava o processo.

Já quase à hora de almoço fomos chamados. Foram feitos os mesmíssimos testes que anteriormente, excepto o de meter a língua de fora e agora sim, foi-lhe marcada uma ressonância magnética para Junho. Entretanto o Dr. Neurologista Segundo vai estar de férias e só pôde marcar consulta para 18 de Julho. Resta saber se vamos só nós ou se já temos que levar o cão.

Enfim, agora compreendo porque é que se costuma dizer .... é preciso é saúde.
Queria só dizer que os nomes dos médicos não são os verdadeiros nomes para não ferir susceptibilidades e também porque já não me lembro deles.


.................................................................................


Agora posso dizer que o que lhe foi diagnosticado foi uma atrofia do músculo da retina. Após vários meses de sessões de fisioterapia no dito hóspital o problema passou. Passou durante meia dúzia de meses.... já que depois acabou por ficar na mesma e ter que passar por tudo novamente.

Eu já me ofereci para lhe fazer as sessões de fisioterapia. Ela aceitou mas só aguentou a primeira.... diz que eu sou muito bruto e lhe deixo os olhos todos negros..... raios..... devia ter tirado os cachuchos dos dedos!!!!!!

.

publicado por Manel dos Anzois às 12:00
link do post | comentar | favorito
2 comentários:
De Rock Joker a 7 de Agosto de 2007 às 15:29
www.brenharder.blogspot.com


De Anónimo a 16 de Abril de 2013 às 01:41
Excelente. Já pensou acompanhar mais pessoas aos Hospitais e posteriormente publicar um livro? No meio de tanto sofrimento até que dá pra rir, parabéns.


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