De certeza que não existe ninguém neste Mundo que sendo Pai (como podem ver pai está com letra maiúscula portanto aplica-se tudo o que for aqui dito para a mãe) não se tenha já questionado: "será que sou um bom pai?".
Temos por bitola o nosso próprio pai e como se sabe pode não ser o melhor dos exemplos, por isso o facto de se poder pensar "sempre sou melhor do que o meu pai foi para mim" pode não ser suficiente. Agora só um aparte para o meu pai que é leitor deste blogue - vá, não fiques melindrado que isto não é sobre ti!.
Esta questão que colocamos a nós próprios vai-se tornando mais recorrente ao longo do crescimento das crias. A minha filha nos seus grandes 11 anos já está naquela idade em que pensa que tudo sabe e em breve deixarei de ser o seu melhor amigo para ser o cota seca que não lhe permite fazer tudo o que lhe der na veneta, sempre cheio de críticas e recomendações.
Já o puto com uns miseros 5 anos está constantemente a chamar-me pai Diabo, bastando para tal dar-lhe uma simples ordem como por exemplo: "anda tomar banho!".
Então a questão é mesmo esta: serei um bom pai? E a minha resposta é sim!
Sim, sou um bom pai, afinal de contas tenho bom humor, adoro gastar dinheiro em porcarias e tenho um armário cheio de bebidas alcoólicas sem estar fechado à chave. O que é que eles podem querer mais?
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Estou numa posição privilegiada para poder falar do dia do pai pois tanto sou pai como sou filho!
Na perspectiva de pai devo dizer que não tenho nenhuma preferência por algum dos meus filhos. Tanto dou uma lambada a um como uma cabeçada a outro, depende de para onde estou virado!
Claro que a minha relação com o Cuzinho e com a Bundinha é diferente, não só pela diferença de sexos como também pela diferença de idades.
A Bundinha, no alto dos seus dez anos já está na fase em que só se despede de mim com um beijo, quando a deixo na escola, se não estiver ninguém a ver. Já não me diz de livre e espontânea vontade “gosto de ti!". Tenho de ser eu a preparar o terreno e com voz triste dizer “já não gostas de mim....” para ela responder em voz de ralhete “gosto de ti! Agora cala-te e deixa-me ver a Lua Vermelha!!!!”.
O Cuzinho, nos seus quatro anos ainda lhe vai saindo um “Papi..... góto de ti!!!!” se bem que já começa a levantar a crista, a ralhar (não fosse ter lá bons exemplos em casa em relação a esta maneira de estar na vida) de maneira que estes dias em que essas palavras me derretem o coração devem estar a acabar.
É com esta consciência que passo agora para a minha perspectiva de filho. Não sei se fui um bom filho ou não. Não sou dado a grandes demonstrações de amor e carinho, sou calado e introvertido, solitário até, mas não dei muitas dores de cabeça aos meus pais.
Em relação ao meu pai, conheci-o já tinha eu quatro anos de idade devido ao que eu considero um dano colateral da Guerra Colonial. Quando eu tinha a idade que tem o meu filho agora, o meu pai era para mim um completo estranho.
Não sei se é por isso ou se pelas vicissitudes da vida já me terem fornicado a memória toda, não tenho recordações do meu pai do tempo em que eu era criança.
Perante isto tudo que disse até agora, apercebo-me que posso ter deixado passar a idade em que livre e espontaneamente dizemos ao nosso pai o quanto gostamos deles.
Por isso aqui fica, provavelmente com quarenta anos de atraso:
“Papi..... góto de ti”.
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